sábado, 5 de julho de 2014

Malthus e a fome no mundo em 2050

Todos nós temos pesadelos que nos acompanham por toda vida.

Uma das minhas maiores preocupações é a fome no mundo.

Isso começou quando eu tinha 13 anos, estava no terceiro ano do ginásio e meu professor de geografia, o saudoso Prof. Murici, nos falou sobre a teoria de Malthus. Fiquei aterrorizada!

Malthus (1766-1834), o economista-demógrafo inglês que criou a primeira teoria populacional que relacionava o crescimento da população com a fome. Segundo ele, a tendência do crescimento populacional acontecia em progressão geométrica enquanto a oferta de alimentos em progressão aritmética. Em resumo ele e eu acreditávamos que o crescimento demográfico iria ultrapassar a capacidade produtiva da terra gerando fome e miséria.

Consultando o Google da época, que 1969 eram as enciclopédias (enciclopédias eram livros que falavam sobre tudo, montados por fascículos semanais comprados nas bancas de jornal ou pagos em prestações pelos nossos pais, para nos oferecer mais cultura), fazendo uma conta simples descobri algo mais aterrorizante ainda: a enciclopédia informava que segundo Malthus, a população mundial dobraria a cada 25 anos, ou seja, quando eu tivesse 37 anos (e isso seria em 1994), não teríamos mais comida para todo mundo e a vida seria um caos.

Essa não era somente uma preocupação ingênua de uma garota sonhadora, o mundo inteiro se preocupava com isso! Antes de morrer, o presidente Kennedy falava em acabar com a fome no planeta e deixava a pergunta “Como vamos alimentar o mundo?”.

E não houve escolha para a nossa sociedade a não ser intensificar a agricultura industrial, com cada vez mais sementes de alta tecnologia, produtos químicos e muitos danos colaterais.

Mesmo com toda essa tecnologia, hoje aproximadamente um bilhão de pessoas passam fome no mundo. Um número que tem sido bastante estável por mais de 50 anos, mesmo com a população não acompanhando a progressão geométrica de Malthus e diminuindo a cada ano em termos percentuais.


Produzir mais alimentos não garantiu que todos pudessem comê-los. O mundo produz calorias suficientes para suprir 2700 calorias por dia por humano. Mais do que suficientes para atender a projeção da população mundial pelas Nações Unidas para 2050, de 9 bilhões de habitantes. Hoje estamos na faixa dos 7,2 bilhões.

Há pessoas que passam fome não porque a comida está faltando, mas sim porque todas essas calorias não são usadas para alimentar os seres humanos. Mais de 33% são usados para a alimentação animal, 5% para produzir biocombustíveis e perto de 35% são desperdiçadas ao longo de toda cadeia alimentar.

O sistema atual não é nem ambientalmente e nem economicamente sustentável. É voltado para deixar menos que a metade do planeta que tem dinheiro comer bem, enquanto os outros batalham para comer o mais barato possível ou simplesmente comer "alguma" coisa.


Paradoxalmente, como um número crescente de pessoas que podem se dar ao luxo de comer bem, a comida para os mais pobres se tornará cada vez mais escassa porque a demanda por produtos de origem animal vai crescer, e eles exigem mais recursos, como a produção de mais grãos.

Se a população crescer 30%, estima-se que a demanda por produtos de origem animal deve dobrar, para o mundo poder consumir os níveis ocidentais de carne. Novos players entram nesse jogo, como a classe média chinesa, que hoje tem acesso e meios econômicos. A China é hoje o principal consumidor mundial de carne, uma tendência que não vai retroceder.

Se quisermos assegurar que os mais pobres possam comer, temos que fazer um trabalho melhor do que faz a “agricultura moderna” para preservar a saúde e a produtividade da terra.

Atualmente em nossa sociedade predominam dois sistemas produtivos: um industrial e o outro dos pequenos proprietários. Agronomia de vanguarda vem pregando o retorno ao sistema de produção de pequenas propriedades. Segundo eles a cadeia alimentar industrial utiliza 70% dos recursos agrícolas para fornecer 30% de alimentos ao mundo, enquanto o sistema de pequenas propriedades produz 70% de alimentos usando apenas 30% desses recursos.


Atualmente, com as variedades de sementes de alto rendimento, fertilizantes, defensivos de alta tecnologia e manejos tecnificados, qualquer monocultura comercial produz muito mais por hectare do que as sementes tradicionais da mesma cultura, mas em prejuízo à sustentabilidade de todo sistema.

Pequenas propriedades, diversificando culturas, misturando plantas e animais, plantando árvores que fornecem não somente frutas, mas o abrigo para os pássaros, sombra e fertilidade através da reciclagem de nutrientes, podem produzir muito mais alimentos tanto em variedade quanto em quantidade, com menos recursos, menores custos, com maior segurança alimentar, mantendo a biodiversidade e resistindo melhor aos efeitos das mudanças climáticas.

Devemos repensar o modelo da agricultura industrial, com a qual a qualidade dos solos deteriora-se e os produtos químicos se tornam cada vez menos eficazes, apesar dos “avanços” dos cultivos geneticamente modificados.

Precisamos deixar de pensar em “quanto” alimento é produzido e refletir em “como”, “para quem”, “a qual preço” e a “qual custo-benefício” eles estão sendo produzidos.

Isso não se trata de Agricultura orgânica, que é praticamente impossível e inviável ser adotada por todos, por questões que passam entre outras, pela produtividade. Falamos aqui de Agroecologia que não engloba apenas a produção sustentável de alimentos saudáveis, mas uma forma diferente de se relacionar com o planeta e com todos os seres vivos.

Por uma vida mais justa para o planeta e todos seres que nele habitam!

Ozana Herrera

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